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terça-feira, 3 de agosto de 2010

Elites...

artigo - Lúcia Hipólito


A maneira simplista como a maioria das pessoas, dentro e fora do governo, enxerga o Bolsa Família me incomoda. Ainda mais nestes tempos eleitoreiros em que ninguém está interessado em discutir "assunto sério"; é marketing político pra lá e pra cá. Motivo? O código binário: contra ou a favor.

Sei, é difícil entender e aceitar a complexidade que um programa social familiar precisa ter; a transversalidade que o integraria a outros, entre os quais os de educação, saneamento, moradia, saúde, transporte, ciência, tecnologia...

E olha que o Bolsa Família nasceu de um embrião concebido pelas bolsas do governo Fernando Henrique. O que não tira o mérito de Lula, óbvio! A história da humanidade vem sendo construída cumulativamente; a partir de conquistas anteriores. A candidata Marina Silva, seguidora do filósofo francês Edgar Morin (pai do conceito da complexidade) tem dito que "se for eleita", o Bolsa Família continuará como um programa de terceira geração. Seria muito bom.

Nunca fui chegada à militância partidária porque, para mim, trata-se de uma prática de alto risco: indução ao pensamento único. Tudo bem que se milite objetivamente por uma causa, desde que se deixem brechas para dúvidas e manobras de correção durante os embates. Quer ver?

Relator do projeto do novo Código Florestal, o deputado Aldo Rebelo (PC do B) está batendo de frente com a senadora Marina (PV) em várias questões ambientais. Concordo com algumas alterações sugeridas pelo deputado, que apóia milhões de pequenas propriedades de famílias tradicionalmente agricultoras. Porém, não deixo de me solidarizar com a senadora no combate de incontáveis ameaças de devastação ao nosso meio ambiente.

Por isso, tanto o Bolsa Família quanto o novo Código Florestal têm a ver com desenvolvimento sustentável. Ou melhor, com um desenvolvimento econômico que possa ser sustentado por décadas neste país. A tal complexidade interliga tudo.

Por exemplo. Não adianta aquecer a economia dando poder de consumo a uma nova classe média se não houver investimento constante em educação, meio ambiente e manutenção da oferta de empregos. Sem essas oportunidades, a maioria não conseguirá evoluir, crescer de verdade. Tornar-se elite. Se quiser, claro...

E ela quer. Por mais que Lula fale mal das elites, os emergentes sonham fazer parte delas. Afinal, eles percebem que as tais elites são formadas pelos melhores no esporte, na música, no teatro, na polícia, na política, na tecnologia x, y ou z, etc. Sem falar nos cientistas, intelectuais, médicos, engenheiros, professores, mestres e doutores que eles poderão ser. Por que não? Só não é fácil.

Lula, ao se eleger presidente da República, fazia parte da elite política, tendo pertencido antes a uma elite sindical. Será que ele se esqueceu?

Sábado passado, em Recife, Marina estava visivelmente cansada. Ao visitar uma escola no paupérrimo bairro do Coque, com esgoto a céu aberto, ela não se segurou. Chorou. Mas deu sua lição: "Eu sei o que se pode fazer para que essas crianças tenham um outro caminho. Já fui excluída entre os excluídos e se tivesse me rendido às circunstâncias, não estaria aqui hoje."

Ateneia Feijó é jornalista

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